quinta-feira, 30 de junho de 2011

A FESTA DE SÃO JOÃO E O RISCO À TRADIÇÃO

No mês de junho, a Bahia se transforma para homenagear os santos juninos na maior festa regional do Brasil, que tem seu ponto alto no dia 24, dia de São João. Dos 417 municípios baianos, mais de 300 participam dos festejos juninos. Segundo a Secretaria de Turismo do Estado, no mês de junho a ocupação hoteleira obteve na capital um aumento de 13 pontos percentuais, em relação ao ano passado, com uma ocupação de 50%, uma média muito positiva por se tratar de baixa estação. Nos municípios, o número insuficiente de vagas para os visitantes, leva a população a alugar suas casas obtendo assim, mais um ganho extra.
A festa de São João tem como características a música, que é o forró tocado tradicionalmente pelo trio de instrumentos, zabumba, triângulo e a majestosa sanfona, o licor, feito com aguardente e calda de diversos sabores de frutas e a comida, à base de milho e mandioca, que se transformam em mingaus, bolos, pamonhas e cuscuz.
Tradições como a queima da fogueira, dança das fitas, quadrilhas, arrasta-pé e queima de fogos de artifícios, garantem a beleza da festa. Outra tradição que é muito praticada no interior, especialmente na cidade de Cruz das Almas, é a guerra de espadas, artefato feito com bambu e pólvora. Mas este ano foi proibida pelo Ministério Público do Estado e dividiu opiniões.
Para algumas pessoas a proibição prejudicou o turismo, afastando os visitantes. Já outras, comemoraram o direito de andarem tranquilamente pelas vias nos dias de festa, pois, além de se trancarem em casa, tinham que providenciar telas para que as espadas não invadissem as residências.
A decisão do Ministérios Público foi pautada no grandes número de feridos, nos anos anteriores e colheu um resultado positivo. Segundo a Santa Casa de Misericórdia da cidade, este ano foram 79 queimados, contrastando com o número do ano passado que registrou 320 atendimentos. Não há o que contestar em relação ao decréscimo no número de vítimas.
Mas, e a tradição da guerra de espadas? Como garantir que esse símbolo da cultura junina não se perca? É preciso pensar na manutenção de nossa arte, porque quando um povo perde uma partícula qualquer de sua identidade, corre o grande perigo de ativar o esquecimento para a sua cultura.
O que estamos fazendo para valorizar a festa de São João tradicional? Qual o critério utilizado para a escolha dos artistas que animam a festa? Será que os forrozeiros das pequenas cidades que esperam o ano inteiro para exibir sua música, são procurados para animar os grandes palcos da festa? Se são, como explicar a ausência deles nos dias de shows, onde quem aparece são quase sempre as grandes atrações do axé, do sertanejo e aspirantes a novos ídolos pop patrocinados pelo mercado cultural e que nada acrescentam ao verdadeiro forró? A música junina é composta pelo forró, baião, xote, xaxado e outros.
A arte não é estática. Ela recebe novos elementos e consequentemente se transforma, mas é necessário respeitar a sua essência. Pelas grandes mídias, temos notícias e exibição desses outros ritmos durante todo o ano. Já o forró, fora do período junino quase não se ouve tocar nas rádios e nem se vê um um grupo ou um forrozeiro serem convidados para um programa de televisão. Não seria justo que eles fossem as atrações principais da festa junina?
A festa de São João é um elemento sócio-cultural nordestino e a cultura não pode sofrer nas mãos da influência política, nem ser aprisionada. Esta consciência precisa estar acima dos interesses mercadológicos que diluem a importância das manifestações regionais. A arte nordestina tem que ser mostrada com autonomia pelo seu povo, que é sua estrela maior.
Para garantir a irrelevância dos números de queimados em Cruz das Almas, não é preciso acabar com a tradição da guerra de espadas. Quando os organizadores da festa se reunirem com o objetivo de encontrar uma solução, certamente as opções emergirão.
A construção de uma cidade cenográfica, numa área que não leve riscos aos que querem sentar a porta de suas casa sem serem incomodados por faíscas de espadas, pode ser uma via de acesso para o espadódromo.
O espetáculo da festa de São João é composto de todos os símbolos que enfatizam sua beleza. É a música, a comida, o forró, a quadrilha, a guerra de espadas e o seu povo que faz da alegria a anfitriã maior da festa.

MARIA JOELIA MOTA COSTA

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