quinta-feira, 20 de outubro de 2011

LETRAS

Porque me transgrido no êxtase de desejos escapulidos
do ventre de minha alma vadia
porque não escuto minha voz aquietada pela convenção do equilíbrio
porque em letras tortas escrevo em linhas retas meus sonhos imperfeitos

é por isso que escrevo

para maquiar-me com a beleza carismática de uma ginasta
quando estiver estrangulando o breu
para arrancar das paredes do meu cérebro
a cortina cinzenta que anuvia o meu troféu

não escrevo para ser julgada
mas para expurgar de minha fala
a mordaça que esconde os absurdos que me levam longe
onde nunca fui e de onde retorno sempre.

Joelia Mota

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A FESTA DE SÃO JOÃO E O RISCO À TRADIÇÃO

No mês de junho, a Bahia se transforma para homenagear os santos juninos na maior festa regional do Brasil, que tem seu ponto alto no dia 24, dia de São João. Dos 417 municípios baianos, mais de 300 participam dos festejos juninos. Segundo a Secretaria de Turismo do Estado, no mês de junho a ocupação hoteleira obteve na capital um aumento de 13 pontos percentuais, em relação ao ano passado, com uma ocupação de 50%, uma média muito positiva por se tratar de baixa estação. Nos municípios, o número insuficiente de vagas para os visitantes, leva a população a alugar suas casas obtendo assim, mais um ganho extra.
A festa de São João tem como características a música, que é o forró tocado tradicionalmente pelo trio de instrumentos, zabumba, triângulo e a majestosa sanfona, o licor, feito com aguardente e calda de diversos sabores de frutas e a comida, à base de milho e mandioca, que se transformam em mingaus, bolos, pamonhas e cuscuz.
Tradições como a queima da fogueira, dança das fitas, quadrilhas, arrasta-pé e queima de fogos de artifícios, garantem a beleza da festa. Outra tradição que é muito praticada no interior, especialmente na cidade de Cruz das Almas, é a guerra de espadas, artefato feito com bambu e pólvora. Mas este ano foi proibida pelo Ministério Público do Estado e dividiu opiniões.
Para algumas pessoas a proibição prejudicou o turismo, afastando os visitantes. Já outras, comemoraram o direito de andarem tranquilamente pelas vias nos dias de festa, pois, além de se trancarem em casa, tinham que providenciar telas para que as espadas não invadissem as residências.
A decisão do Ministérios Público foi pautada no grandes número de feridos, nos anos anteriores e colheu um resultado positivo. Segundo a Santa Casa de Misericórdia da cidade, este ano foram 79 queimados, contrastando com o número do ano passado que registrou 320 atendimentos. Não há o que contestar em relação ao decréscimo no número de vítimas.
Mas, e a tradição da guerra de espadas? Como garantir que esse símbolo da cultura junina não se perca? É preciso pensar na manutenção de nossa arte, porque quando um povo perde uma partícula qualquer de sua identidade, corre o grande perigo de ativar o esquecimento para a sua cultura.
O que estamos fazendo para valorizar a festa de São João tradicional? Qual o critério utilizado para a escolha dos artistas que animam a festa? Será que os forrozeiros das pequenas cidades que esperam o ano inteiro para exibir sua música, são procurados para animar os grandes palcos da festa? Se são, como explicar a ausência deles nos dias de shows, onde quem aparece são quase sempre as grandes atrações do axé, do sertanejo e aspirantes a novos ídolos pop patrocinados pelo mercado cultural e que nada acrescentam ao verdadeiro forró? A música junina é composta pelo forró, baião, xote, xaxado e outros.
A arte não é estática. Ela recebe novos elementos e consequentemente se transforma, mas é necessário respeitar a sua essência. Pelas grandes mídias, temos notícias e exibição desses outros ritmos durante todo o ano. Já o forró, fora do período junino quase não se ouve tocar nas rádios e nem se vê um um grupo ou um forrozeiro serem convidados para um programa de televisão. Não seria justo que eles fossem as atrações principais da festa junina?
A festa de São João é um elemento sócio-cultural nordestino e a cultura não pode sofrer nas mãos da influência política, nem ser aprisionada. Esta consciência precisa estar acima dos interesses mercadológicos que diluem a importância das manifestações regionais. A arte nordestina tem que ser mostrada com autonomia pelo seu povo, que é sua estrela maior.
Para garantir a irrelevância dos números de queimados em Cruz das Almas, não é preciso acabar com a tradição da guerra de espadas. Quando os organizadores da festa se reunirem com o objetivo de encontrar uma solução, certamente as opções emergirão.
A construção de uma cidade cenográfica, numa área que não leve riscos aos que querem sentar a porta de suas casa sem serem incomodados por faíscas de espadas, pode ser uma via de acesso para o espadódromo.
O espetáculo da festa de São João é composto de todos os símbolos que enfatizam sua beleza. É a música, a comida, o forró, a quadrilha, a guerra de espadas e o seu povo que faz da alegria a anfitriã maior da festa.

MARIA JOELIA MOTA COSTA

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AMOR É LÂMINA QUE TRANSFORMA DOIS EM UM

Na semana passada fui visitar um casal de amigos que estão morando juntos há oito meses. Ele é fá de blues e rock, com ênfase nos anos 70. No meio dos seus discos há nomes como Janis Joplin, Jimi Hendrix, Pink Floyd, Bob Dylan e por aí vai.
Ela é mais voltada para a música romântica. Gosta de MPB, sertanejo, canções que falem de estórias de amor e todas suas nuances.
No meio de um papo musical regado a cerveja, pude escutar "Summertime", lindo blues de Janis Joplin e percebi que o CD foi posto por minha amiga. Achei estranho, ela que sempre preferiu outro tipo de romantismo, agora estava ouvindo rock e blues, algo estava diferente.
Ao chegar a hora de eu ir, meu amigo pôs a música "Minhas Coisas" de Odair José e pediu que eu observasse a poesia que havia na letra, quando o autor relata que além do violão ficar mudo, todas as outras coisas que havia na casa perderam a vida, após a mulher amada ter ido embora. O verso dizia "se eu soubesse que iria lhe perder não teria acostumado minhas coisas com você".
Voltei pra casa contagiada pela alegria do casal se permitindo ouvir outros estilos de música e percebi que o amor tem essa maestria de transformar o que está bom para melhor.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

MAIS UM PIXINGUINHA

Quando eu era adolescente havia o Projeto Pixinguinha. Evento que trazia grandes nomes da música brasileira para a Concha Acústica do TCA, a preço simbólico. Além da boa música, o projeto também tinha o objetivo de apresentar novos artistas em companhia de outros já consagrados. Tive a oportunidade de ver artistas maravilhosos como Nara Leão, Zizi Possi, 14 Bis, Arrigo Barnabé e tantos outros com seus trabalhos de grande valor. As filas das bilheterias eram enormes, mas valia toda as horas de espera, às vezes debaixo de sol e chuva.
Sinto falta de projetos como esse que oferecia ao público a oportunidade de assistir a shows, pautados na qualidade da nossa cultura musical, sem precisar pagar caro por isso.
Hoje, em Salvador, há muitos eventos musicais que movimentam a cidade, mas a qualidade do que se vê é quase nada. Apesar de não serem baratos esses shows lotam as casas de espetáculos com uma música que cansa pela falta de letra e de melodia. Se o Projeto Pixinguinha voltasse, certamente apresentaria a muitos jovens a oprtunidade de ouvir uma música verdadeiramente bela.

terça-feira, 21 de junho de 2011

VESTÍGIOS DE MIM

Sou alguém que cresceu numa família, onde dificuldades rimavam com simplicidade e esperança com alegria. Lembro de minha mãe costurando e cantando, lavando roupa e cantando e eu ouvia atenta as estórias contadas nas letras das canções. Assim, a música se tornou para mim uma companhia sentimental, presente em todos os momentos da minha vida. Se estou triste ouço música se estou em festa também. Além da música, aprendi com meus pais que as dificuldades podem ser adubos para nossas trilhas, quando passávamos por falta de alguma coisa, minha sempre repetia para cada um de nós, "amanhã sempre será um dia melhor" e meu pai inventava brincadeiras que nos levava aos sorrisos e assim vivíamos no acalanto da esperança. Quando cresci descobri o quanto ela embeleza a vida.
Hoje, tenho planos que cabem no meu mundo, tenho sonhos que vão além do céu, mas continuo muito urbana. Gosto de andar pelas ruas da cidade me misturando com as pessoas. Fico a observá-las, cada um no seu compasso com seus segredos e sonhos.
Apesar das notícias retratando a violência e tanta falta de amor, sou teimosa e insistir no ser humano é minha reincidência.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A CHUVA E A CIDADE

Quando criança, o inverno era uma estação que tinha mistério e personagens míticos em minha imaginação infantil. Vinham as tanajuras e amarrávamos uma linha na cintura do insetinho, deixando que ele nos levasse pela rua a fora, procurando não sei o que, achando tudo de bom em deliciosos zigs zags.
A chuva forte lavava a rua, levando nossos barquinhos de papel com um sol pintado a lápis cera na proa, prontos para derrotar piratas .
Os relâmpagos e os trovões eram Senhores de respeito. Minha mãe tirava todas as tomadas da parede, cobria os espelhos da casa e ficávamos quietos a escutar aquela voz rompante quase sempre acompanhada do clarão de um relâmpago.
Hoje, quando se aproxima o período de chuva em Salvador, me junto aos que temem aompanhar o prefácio de capítulos desesperadores.
O medo pendurado nos barrancos engole o medo de trovões, as tanajuras bailarinas saíram de cena, mas as ratazanas não se atrasam nunca, mãos miudinhas já não fazem barquinhos de papel para navegar num oceano urbano, pois navegar na rede sem ver as piscinhas na porta de casa é um pecado permissível e a chuva não leva mais barquinhos de papel e sim toneladas de falta de educação e desrespeito com o meio ambiente.