sexta-feira, 1 de abril de 2011

A CHUVA E A CIDADE

Quando criança, o inverno era uma estação que tinha mistério e personagens míticos em minha imaginação infantil. Vinham as tanajuras e amarrávamos uma linha na cintura do insetinho, deixando que ele nos levasse pela rua a fora, procurando não sei o que, achando tudo de bom em deliciosos zigs zags.
A chuva forte lavava a rua, levando nossos barquinhos de papel com um sol pintado a lápis cera na proa, prontos para derrotar piratas .
Os relâmpagos e os trovões eram Senhores de respeito. Minha mãe tirava todas as tomadas da parede, cobria os espelhos da casa e ficávamos quietos a escutar aquela voz rompante quase sempre acompanhada do clarão de um relâmpago.
Hoje, quando se aproxima o período de chuva em Salvador, me junto aos que temem aompanhar o prefácio de capítulos desesperadores.
O medo pendurado nos barrancos engole o medo de trovões, as tanajuras bailarinas saíram de cena, mas as ratazanas não se atrasam nunca, mãos miudinhas já não fazem barquinhos de papel para navegar num oceano urbano, pois navegar na rede sem ver as piscinhas na porta de casa é um pecado permissível e a chuva não leva mais barquinhos de papel e sim toneladas de falta de educação e desrespeito com o meio ambiente.